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Federação Pela Vida

#1 Sabes, leitor, que estamos ambos na mesma página*

Atualizado: 10 de jan.

Uma rubrica da Federação Portuguesa pela Vida em parceria com a Comissão Diocesana da Cultura, por Luís Manuel Pereira da Silva**


O autor e a obra

Johannes Hartl, La cultura del Edén: ecologia del corazón para un nuevo mañana,

Madrid, Ediciones Rialp, 2023.


Johannes Hartl [1979-…] é um filósofo e teólogo alemão, requisitado um pouco por todo o mundo para proferir conferências. Infelizmente, constata-se ser um ilustre desconhecido em Portugal. É autor de ‘Deus indomável’, ‘Fogo no meu coração’, etc., obras ainda não traduzidas em Portugal. Eu próprio só muito recentemente conheci este autor. Este livro foi-me apresentado pelos padres da Arquidiocese de Colónia que acolhemos, na comunidade de Santiago de Beduído, nos dias nas dioceses, tempo preparatório da JMJ|Lisboa 2023.


Marcas de água (o que fica, depois de se deixar o livro)

O livro A cultura do Éden deixa em quem o lê um sabor a esperança, diante dos enormes desafios de um mundo que anseia pelo Éden, mas que parece afastar-se constantemente de se encaminhar para ele. O autor enfrenta algumas das mais desafiantes questões da atualidade, com muita lógica, argumentação e sempre confirmada documentação. Os desafios colocados à família, à antropologia de pendor personalista, são encarados como interpelações diante das quais cabe perceber onde estão os equívocos e dar-lhes adequada resposta e proposta. O autor não teme, nunca, estar em contracorrente, certo da valia dos seus argumentos.


Um livro a ter por perto, não como manual de receitas, mas como guia para condução em situações de denso nevoeiro.


A ideia fundamental deste livro decorre do desenvolvimento do axioma central de que uma vida realizada está assente em três pilares: vínculo, sentido e beleza.


O autor não se basta em argumentar, de forma racional (ainda que tal já não fosse pouco e o autor não o dispense, quando necessário) e abstrata, a importância de cada uma destas condições (necessárias). Evidencia-o, repercutindo estudos devidamente identificados que confirmam a sua leitura.


Assim, no que concerne à condição ‘sentido’, entre outras confirmações, o autor recorda que Estudos realizados por Aliya Alimujian e Ashley Wiensch, publicados, em 2019, no Jama network open, concluem que ‘as pessoas que consideram que a sua vida tem sentido têm duas vezes e meia menos probabilidades de sofrer derrames cerebrais e enfartes.’ (p.195).


No que se refere à condição ‘vínculo’, Este autor recorda, nas páginas 90 e 91, dois estudos de 2019 que evidenciam que os adolescentes sem vínculo sólido ao pai custam ao Estado em média cerca de 15 mil euros, muito mais do que os 1450 que custa um adolescente com vínculo seguro ao pai. Autores desses estudos: Christian bachmann, jennifer beecham e thomas o’connor.


Por fim, ao refletir sobre a beleza, não deixa de recordar como esta serviu, na Albânia contemporânea, para diminuir a criminalidade, quando Edi Rama chegou a presidente da capital, Tirana, e decidiu empreender uma densa obra de requalificação e embelezamento que se repercutiu na diminuição da delinquência, pela via da arquitetura e da criação de parques verdes e com presença de arte. (p. 329)


Na mesma página que o autor (citações)

“Só os seres humanos se interessam com a morte, só os seres humanos são religiosos.” (p. 38)


“O amor é o mais importante da vida. A desvinculação faz com que se adoeça.” (p. 58)


“Uma análise de 2010 dos dados de mais de catorze mil estudantes universitários dos últimos trinta anos mostra que, desde o ano de 2000, os jovens evidenciaram uma drástica descida do seu interesse pelas outras pessoas. […]” (Nota 29, p. 68)


“O vínculo, e não a luta pela sobrevivência, é a força motriz.” (p. 73)


“Numerosos estudos demonstram o que sempre se soube intuitivamente: os homens criam as crianças de modo diferente das mulheres e uma criança necessita tanto de um pai como de uma mãe.” (p. 78)


“O vínculo com a mãe e o vínculo com o pai são diferentes: ambos têm efeitos extremamente duradouros e bem diferentes. […] A separação dos pais tem um efeito tão grande em 43% das crianças que o seu mundo interior se desmorona.” (p. 79)


“Uma sociedade não é mais do que uma grande rede de relações.” (p. 89)


“Os estudos demonstram que a exclusão social dói ao nível cerebral tanto como a dor física.” (p. 98)


“O cultor do corpo é uma tendência que infelizmente tem muito futuro. O melhoramento humano será a etapa seguinte. No futuro, as componentes manométricas, a estimulação seletiva de determinadas zonas do cérebro e a manipulação genética molecular farão com que as pessoas sejam mais rápidas, mais bem-sucedidas, mais sãs e perfeitas. No entanto, o coração humano nutre-se dos vínculos. Por isso, tratar a vergonha e o perfecionismo é uma questão chave para o futuro. As pessoas que puderem criar uma proximidade profunda e vulnerável consigo mesmas e com as demais terão um tesouro que será cada vez mais pretendido.” (p. 100)


“Os seres humanos podem viver uma vida emocionalmente sã sem sexo, mas não sem proximidade física. O tato sensível não sexual chama-se sensualidade.” (p. 121)


“O eu não só tem um corpo, o eu é um corpo.” (p. 121)


“Necessitamos de uma revolução da sensualidade. Porque a conexão com o nosso corpo e o contacto sensível com os demais é o que nenhuma inteligência artificial poderá proporcionar nunca.” (P. 122)


“Segundo [Viktor] Frankl, a busca de sentido é a principal motivação de uma pessoa na vida.” (p. 168)


“Sem sentido, a vida humana é inumana.” (P. 170)


“Fazer sempre o que é agradável é o caminho seguro para uma vida sem sentido.” (p. 173)


“Sempre que o homem se encarrega de definir o bem e o mal com a sua própria autoridade, torna-se perigoso. Sempre que o homem começa a tergiversar a verdade, torna-se mortal. Porque nada destrói mais o sentido do que a mentira.” (p. 182)


“O sentido não se constrói, mas sim encontra-se.” (p. 215)


“O sentido também tem que ver com o facto de que uma pessoa sinta o que é correto fazer. O sentido não só tem que ver com o próprio eu, mas também com a constatação de que algo representa um valor em si mesmo que me obriga a viver de acordo com isso.” (p. 216)


“[…] continua a ser verdade que são as coisas belas que resistem à passagem do tempo.” (p. 267)


“A beleza é um lugar do qual não queres sair.” (P. 275)


“O que só se cria para uma função, tarde ou cedo se torna obsoleto.” (p. 299)


“Só quando aprendermos a ver algo profundamente digno no pobre, em quem sofre, no incapacitado, no não nascido e no moribundo, sentiremos o nosso próprio e inquebrantável valor como seres humanos.” (p. 339)


“Amar uma pessoa significa amá-la pelo que é. Como uma unidade de corpo, mente e alma.” (p. 342)


“Quanto menos sabe uma pessoa quem é, de mais coisas necessita, segundo Fromm.” (p. 364)


“Enquanto a humanidade investiga a IA e os robôs, cresce paralelamente o anseio de um futuro que continue sendo humano.” (p. 375)


Rubrica "Sabes, leitor, que estamos ambos na mesma página" | Marca de água de livros que deixam marcas profundas | Parceria: Federação Portuguesa pela Vida e Comissão Diocesana da Cultura


*Título retirado de Daniel Faria, Dos líquidos, Porto, Edição Fundação Manuel Leão, 2000, p. 137


**Luís Manuel Pereira da Silva é Professor, Presidente da Comissão Diocesana da Cultura e Vogal da Direção da Federação Portuguesa pela Vida. É o autor de "Ensaios de liberdade", "Bem-nascido… Mal-nascido… Do ‘filho perfeito” ao filho humano" e de "Teologia, ciência e verdade: fundamentos para a definição do estatuto epistemológico da Teologia, segundo Wolfhart Pannenberg".

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