Uma rubrica da Federação Portuguesa pela Vida em parceria com a Comissão Diocesana da Cultura, por Luís Manuel Pereira da Silva**
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O autor e a obra
Gabriele Kuby, A revolução sexual global: destruição da liberdade em nome da liberdade,
Cascais, Princípia Editora, 2019.
Gabriele Kuby revela, em ‘a revolução sexual global’, o olhar fino do sociólogo que percebe os liames com que se enlaça o tecido social. Faz jus à sua formação de base, somando-lhe o desejo vincado de respeito pela verdade, que foi buscar ao catolicismo, a que se converteu, em 1997. Nesta obra, acrescenta à autoridade do que diz, que sempre fundamenta com precisão, a companhia de destacadas figuras da cultura mundial que lhe reconhecem o mérito. A edição portuguesa reúne prefácios da edição italiana, escrito pelo Cardeal Cafarra, do filósofo alemão Robert Spaemann, e de D. Nuno Brás (específico desta edição portuguesa), sendo sabido que também o Papa Bento XVI nutria por esta oradora e escritora grande apreço, repercutido em nota recolhida nesta edição: ‘A sra Kuby é uma corajosa guerreira contra ideologias que, em última instância, resultam na destruição do Homem.’
O livro é de leitura altamente recomendável que, somada à que, nesta rubrica, já fui analisando, permite ao leitor ler em profundidade as opções que estão a ser adotadas no sentido de uma reconstrução antropológica que é necessário perceber para questionar e, concluindo-se essa oportunidade, travar e reverter.
O que está em causa não são aspetos acessórios da condição humana, mas a própria condição humana, pois falar sobre a sexualidade não é mencionar um aspeto marginal da condição de se ser Homem, mas dimensão que, pelo seu carácter sistémico, afeta o todo do ser corpóreo. Aliás, a interrogação (em espelho) fundamental que estas linhas nos deixam refere-se, precisamente, ao lugar do corpóreo na definição do que se é enquanto humano: Quanto de humano há no corpóreo e quanto de corpóreo é o humano?
Marcas de água (o que fica depois de se deixar o livro)
Gabriele Kuby revela-se, neste livro, como reconhece o Papa Bento XVI, uma autora corajosa. Lemo-la com o coração apertado, solidário com as ameaças que adivinhamos (Os tempos são dados a ‘cancelamentos’ – a que, no passado, se chamava ‘censura’!) impenderem, certamente, sobre quem ousa dizer que o ‘rei vai nu’. É o que Kuby faz, neste livro: denuncia que o rei vai nu e que todos estão a vê-lo, assobiando para o lado.
O título anuncia ao que vai: descreve como está a processar-se, na ordem mundial, diante de todos, uma revolução sexual, sob a capa da liberdade, mas pretendendo cercear a liberdade autêntica.
A liberdade que se defende, nesta revolução, confunde a condição livre com a indeterminação da vontade. Ser livre é, para a revolução em curso, poder fazer tudo o que se quer. O humano da revolução em andamento não é corpo (tem-no e dispõe dele como objeto), não tem limites nem condicionamentos, vive como se fosse só pensamento, sem história e sem memória, tendo abandonado a busca da verdade, por nela ver um impedimento a realizar-se. Realizar-se é, para esta revolução, fruir e sentir, num turbilhão de sucessivas sensações que se acumulam. O sujeito desta revolução não é; tem! Possui!
Gabriele Kuby não defende qualquer teoria conspiracionista, qualificativo tantas vezes utilizado pelos que desistiram de pensar diante de alguém que possa estar a propor rever-se o que vai sendo decidido. Kuby observa, lê, reúne informação. A leitura do seu livro permite constatar como se está a processar esta ‘revolução’, seja nos âmbitos internacionais, seja nos âmbitos educacionais mais restritos. A leitura deste livro ajuda a compreender como o modelo se reproduz, país a país, como se de uma cartilha se tratasse.
No âmbito internacional, Kuby recorda que a mudança de metodologia, no processo de tomada de decisões, nas conferências internacionais, em que se passou da votação e decisão por maioria (respeitando as maiorias e expondo as divisões) para o modelo de busca de consensos que nivela as divergências, sob a capa de um apaziguamento, tem, afinal, permitido veicular, sem o explicitar, conceções e ideias que, em votação aberta, seriam reprovadas e recusadas. E evidencia como, nas conferências internacionais referentes à demografia e população, se tem vindo a estruturar, em nome de bondosas intenções, toda uma agenda que se propõe isolar o indivíduo, separando-o da família que o protegeria das agressões exteriores.
Kuby não refere, apenas. Não fica na simples enunciação de teses. Ao longo dos dezasseis capítulos que compõem este livro, não é apenas defendida uma ideia, mas é desenvolvida com dados, com informação objetiva, com muitos elementos estatísticos, com muitas citações de documentação. Nela aborda, de modo frontal e muito bem argumentado e fundamentado, temas como ‘o aborto como pretenso direito humano’, a ideologia de género, as estratégias de hipersexualização do ensino, as políticas contra a natalidade, etc. O leitor sente-se profundamente respeitado. E termina incomodado… Os dados com ele partilhados geram desconcerto e perturbação, desafiando-o a posicionar-se para a reescrita do subtítulo: ‘a construção da liberdade através da autêntica liberdade’.
Sublinhe-se que esta reconstrução encontra, neste livro, muitos motivos de esperança, pois um dos capítulos enuncia sinais de esperança, referindo como políticas nacionais de alguns países e a própria singularidade da atuação cristã vêm permitindo travar a ‘destruição da liberdade em nome da liberdade’.
O sonho de uma humanidade que se constrói no respeito pela sua dignidade permanece vivo…
Na mesma página que o autor (citações)
‘O Papa Francisco aponta […] pois à «ideologia gender» - ou «ideologia de género» - quatro problemas essenciais: 1) Ela nega a diferença e a reciprocidade natural de homem e mulher; 2) Ela esvazia a base antropológica da família com inevitáveis efeitos sociais; 3) Ela desvincula a identidade pessoal da diversidade biológica; 4) Ela é habitualmente a imposição colonizadora de um pensamento.’ (D. Nuno Brás, Prefácio à edição portuguesa, p. 10)
‘[…] a cultura contemporânea, segundo o Papa Francisco, «exalta o individualismo narcisista, uma conceção da liberdade separada da responsabilidade pelo outro, um aumento da indiferença em relação ao bem comum» (25 de outubro de 2016).’ (D. Nuno Brás, Prefácio à edição portuguesa, p. 15)
‘[…] o Papa Francisco sublinha a necessidade de «ajudar a aceitar o seu [próprio]corpo como foi criado», com apreço pela sua feminilidade ou masculinidade, «para se poder reconhecer a si mesmo no encontro com o outro que é diferente» - o mesmo é dizer, para abandonar práticas e tendências egoístas e individualistas. Com efeito, é deste modo apenas que «é possível aceitar com alegria o dom específico do outro ou da outra, obra de Deus criador, e enriquecer-se mutuamente», «perdendo o medo à [sic] diferença». E acrescenta: «A edução sexual deve ajudar a aceitar o próprio corpo, de modo que a pessoa não pretenda “cancelar a diferença sexual, porque já não sabe confrontar-se com ela”» (AL, n.º285).’ (D. Nuno Brás, Prefácio à edição portuguesa, pp. 15-16)
‘David Hume escreveu que os factos são teimosos: teimosamente, contestam qualquer ideologia.’ (Cardeal Carlo Caffarra, Prefácio à edição italiana, p. 21)
‘A expressão gender mainstreaming («ideologia de género») não é familiar para a maioria das pessoas. Por isso, elas também desconhecem o facto de, durante anos, os governos, as autoridades europeias e uma parte dos media terem vindo a submetê-las a um programa de reeducação cujo nome elas próprias desconhecem. O que essa reeducação pretende remover das nossas cabeças é um hábito milenar da humanidade: o hábito de distinguir entre homens e mulheres. Isso implica extinguir a verdade fundamental de que a atração sexual mútua entre um homem e uma mulher constitui a base da existência atual e futura da humanidade.’ (Robert Spaemann, Prefácio, p. 23)
‘O conceito de liberdade política foi cunhado na Antiga Grécia e inicialmente significava permitir que as pessoas vivessem de acordo com os seus costumes. Tirano era quem impedia as pessoas de fazerem isso, quem queria «reeduca-las». Este livro trata dessa tirania. É um livro esclarecedor. Ilumina o que está a acontecer connosco agora, os métodos que os «reeducadores» usam e que represálias aguardam aqueles que se opõem a esse projeto. E isso inclui não só aqueles que tomam parte na discussão, mas também, como mostra este livro, todos aqueles que já defenderam a liberdade de expressar a sua opinião sobre estes assuntos numa discussão aberta.’ (Robert Spaemann, Prefácio, p. 24)
‘O conceito de normalidade é indispensável quando se trata de lidar com processos vitais. Os erros neste âmbito ameaçam a vida da humanidade. Gabriele Kuby tem a coragem de mostrar que a nossa liberdade está ameaçada por uma ideologia anti-humana. E merece os nossos agradecimentos por nos esclarecer com o seu trabalho. O maior número possível de pessoas deve ler este livro, para que possam estar cientes do que devem esperar caso não reajam.’ (Robert Spaemann, Prefácio, p. 25)
‘A premissa-base deste livro é que o fantástico dom da sexualidade precisa de ser educado, caso se destine a permitir que as pessoas tenham uma vida e relações bem-sucedidas. O oposto – a grosseira passagem à realização de todos os desejos – distorce a pessoa e a cultura.’ (Gabriele Kuby, p. 33)
‘[os] processos são globais e conduzidos por lobbies influentes em instituições internacionais. O núcleo desta revolução cultural global é o desmantelamento das normas sexuais. A supressão de limitações morais à sexualidade poderia dar a ideia de aumentar a liberdade das pessoas, mas dá lugar a indivíduos desenraizados, conduz à dissolução da estrutura social e origina caos social.’ (Gabriele Kuby, p. 38)
‘A ONU espera que a população mundial atinga os 8900 milhões até 2050 e, em seguida, comece a decrescer. Pela primeira vez, a ONU assume que a fertilidade na maioria dos países em desenvolvimento cairá para baixo de 2,1 filhos por mulher no século XXI. Espera-se que fique abaixo do nível de substituição em três de quatros países em desenvolvimento até 2050. Esta é a estimativa da Divisão de População das Nações Unidas na sua revisão de 2002 das projeções oficiais para a população mundial das Nações Unidas (ONU, 2002).’ (Gabriele Kuby, p. 46)
‘Margaret Sanger (1879-1966) desempenhou um papel decisivo no controlo da população. Assumiu como missão da sua vida a eliminação dos elementos supostamente indesejáveis da população mediante a contraceção, a esterilização e o aborto. Nos Estados Unidos, o clima era adequado para a ideologia eugénica.’ (Gabriele Kuby, p. 47)
‘Em 1921, Sanger fundou a American Birth Control League («Liga Americana para o Controlo da Natalidade»), que defendia abertamente a eugenia com propósitos racistas. No mesmo ano, Marie Stopes abria uma clínica de controlo da natalidade em Londres. Hoje, a Marie Stopes International é uma das maiores organizações abortistas do mundo.’ (Gabriele Kuby, p. 48)
‘A aplicação desta política social exigiu uma palavra nova, porque a linguagem não se limita a refletir a realidade – cria-a. A palavra mágica foi género. Tinha de se substituir a palavra sexo. Porque, antes disso, se alguém perguntasse pelo sexo, a resposta seria uma de duas: masculino ou feminino.’ (Gabriele Kuby, p. 79)
‘A pioneira da teoria de género foi Judith Butler, nascida em 1956. [Para ela] não existem «homens» nem «mulheres». O sexo é uma fantasia, algo em que só acreditamos porque nos foi repetido com frequência. O género não está associado ao sexo biológico, que não desempenha nenhum papel – apenas surge porque foi criado pela linguagem e porque as pessoas acreditam no que ouvem repetidamente. Do ponto de vista de Butler, a identidade é flexível e fluída. Não há masculino nem feminino, mas apenas um determinado desempenho, ou seja, um comportamento que pode ser alterado a qualquer momento.’ (Gabriele Kuby, p. 82)
‘No centro de tudo isto está o direito do indivíduo autónomo à livre escolha. A palavra liberdade é truncada, divorciada da verdade, da responsabilidade, do bem dos outros e do bem comum. O egoísmo faz com que o indivíduo autónomo seja facilmente seduzido por estes novos direitos.’ (Gabriele Kuby, p. 93)
‘A ONU e a União Europeia são seletivas no seu empenho em proteger certos grupos de pessoas contra a discriminação. Hoje, as minorias religiosas perseguidas não recebem nem uma pequena parte da atenção que as instituições internacionais dedicam à discriminação baseada na orientação sexual. Atualmente os cristãos são o grupo mais perseguido do mundo. Há povoações inteiras no Médio Oriente, África e Ásia que estão a ser despovoadas de cristãos, que se veem privados de condições de vida decentes; as suas igrejas são incendiadas e os fiéis são expulsos ou perseguidos, muitas vezes até à morte. Mas, em contraste com a comparativamente pequena minoria de pessoas LGBTI, não há programas na ONU nem na União Europeia para proteger os cristãos.’ (Gabriele Kuby, p. 117)
‘O êxito da revolução sexual em todo o mundo requer […] que se gere confusão até ao ponto de não-retorno, até que toda a oposição seja suprimida. A confusão é gerada de três formas:
- Através de um presunção falsa de autoridade e legitimidade;
- Mediante a utilização de termos indefinidos e ambíguos;
- Através de uma falsa pretensão de concordância com as leis internacionais existentes.’ (Gabriele Kuby, p. 117)
‘O lobby LGBTI considera que a investigação sobre as causas da homossexualidade (LGBTI) e a oferta de assistência terapêutica para os que sofrem com as suas tendências sexuais são «discriminatórias» e pretende suprimi-las, ainda que sejam as próprias pessoas afetadas a desejar aceder a essa ajuda.’ (Gabriele Kuby, p.125)
‘O que aconteceu ao sentido de responsabilidade dos líderes políticos e de todos os que dele dependem para que os temas LGBTI se tenham tornado áreas políticas-chave? Não teremos outros problemas, tais como o inverno demográfico, a morte de milhões e bebés por nascer, a crise da imigração, o colapso das famílias, com o seu alto custo para a felicidade, a saúde e a educação da próxima geração, o desemprego e a instabilidade económica global? Por que razão tantos políticos deixaram de ter o bem comum como nobre motivação para a sua procura do poder?’ (Gabriele Kuby, p. 149)
‘[…] a perspetiva de género vai muito para além da promoção da igualdade entre homens e mulheres. Ela implica uma fabricação da igualdade através da «desconstrução» da ordem hierárquica binária de género para chegar a uma diversidade de géneros com igual valor e iguais direitos.
O programa do género inclui aspetos como:
- plena igualdade (equivalência) entre homem e mulher;
- desconstrução das identidades masculina e feminina;
- luta contra a normatividade heterossexual, o que significa providenciar plena igualdade legal e social – ou, na prática, privilegiar todos os modos de vida não heterossexuais;
- aborto como «direito humano», apresentado como direito reprodutivo;
- sexualização das crianças e dos adolescentes através da educação sexual como disciplina obrigatória;
- privação material e empobrecimento das famílias.’ ’ (Gabriele Kuby, p. 152)
‘Quem acredita que existe um limite para a derrocada dos valores morais deverá tomar nota da última decisão da Deutscher Ethikrat (Comissão de Ética Alemã).
A 24 de setembro de 2014, o conselho decidiu que a lei que criminalizava o incesto deveria ser revogada e o incesto consensual (relações sexuais entre irmãos a partir dos 14 anos) deveria ser permitido se eles viverem longe da família.’ ’ (Gabriele Kuby, p. 158)
‘Para onde quer que se olhe – política, meios de comunicação, fundações, tribunais, empresas, escolas, infantários – a ideologia de género é o caminho para o progresso pós-moderno. É a ideologia dominante à qual ninguém se pode opor sem ser rejeitado e difamado. Ninguém se atreve a submeter a ideologia de género ao «teste do stress» para determinar as consequências e adequação ao futuro. Em vez disso, todas as leis são examinadas em relação à medida em que contribuem para a incorporação da perspetiva ideológica de género. Um documento do Senado de Berlim declara que «a introdução é feita de cima para baixo, ou seja, o chefe político de uma organização compromete-se com a implementação da perspetiva de género e decide como os processos devem ser orientados e avaliados».’ ’ (Gabriele Kuby, p. 158)
‘O que o materialismo dialético foi outrora para as universidades sob ditaduras comunistas é hoje a ideologia de género para as universidades ocidentais, onde a próxima geração de estudantes está a ser preparada para assumir posições de liderança na sociedade.’ ’ (Gabriele Kuby, p. 160)
‘«A perversão da relação com a realidade» e a «perversão do caráter comunicativo» tornam a palavra inapropriada para o diálogo. Neste processo, podem ser distinguidas quatro características:
- Termos que exprimem valores tradicionais tornam-se suspeitos e são descartados. Por exemplo: «castidade»;
- Termos com conotações positivas recebem um novo conteúdo e são depois explorados. Exemplo: «diversidade»;
- São inventados novos termos para transmitir novas ideologias. Exemplo: «poliamor»;
- São introduzidos novos termos para difamar os opositores. Exemplo: «homofobia».’ (Gabriele Kuby, p. 172)
‘Discrimen é a palavra latina para «distinção» ou «diferença». A pessoa dotada de livre-arbítrio deve distinguir entre o certo e o errado, o bem e o mal, para lidar com a sua liberdade de forma a ter sucesso na sua própria vida e não causar danos aos outros seres humanos. Para a pessoa que sabe que tem de responder perante Deus, esta distinção entre o bem e o mal é essencial para a sua salvação eterna. Se lhe for proibido fazer esta distinção – e se lhe for proibido passar esse critério para que a geração seguinte possa fazê-lo também -, então a liberdade religiosa será de facto banida. Serão destruídas as raízes da cultura cristã.
Distinguir entre o bem e o mal não é discriminar as pessoas. Cada pessoa, independentemente da sua orientação sexual, é igual em dignidade, e cada pessoa goza de proteção legal contra a difamação, a perseguição e a exclusão. Julgar o comportamento de uma pessoa, no entanto, não é uma ofensa à sua dignidade, mas torna possível a coexistência, a qual não pode acontecer sem princípios morais.’ (Gabriele Kuby, p. 178)
‘Diferentes tarefas e papéis entre homens e mulheres são denegridos como «estereótipos» que devem ser eliminados pelas autoridades políticas. A ideologia das diferenças de género «socialmente construídas» provou ser resistente aos resultados da investigação em biologia, medicina, sociologia, psicologia, neurociências, que descrevem, cada vez com maior precisão, as diferenças entre homens e mulheres e as causas destas diferenças.’ (Gabriele Kuby, p. 179)
‘O termo «homofobia» é um neologismo cunhado no final dos anos 60 pelo psicanalista e ativista homossexual George Weinberg, para fazer com que as pessoas que rejeitam a homossexualidade parecessem doentes mentais. Uma fobia é um medo neurótico que é tratado terapeuticamente, tal como o medo de aranhas (aracnofobia), de multidões (agorafobia), de espaços fechados (claustrofobia), do número 13 (triscaidecafobia), etc. Com a sua perspicaz perceção de psicanalista, Weinberg pretendia demonstrar que as pessoas que sentem repulsa pela homossexualidade, na realidade, apenas receiam as próprias tendências homossexuais. A profunda rejeição do estilo de vida homossexual por motivos antropológicos, psicológicos, médicos, sociais ou religiosos foi condenada pelo termo geral «homofobia» e por isso classificada como um medo neurótico. Escusado será dizer que insultar, ou até utilizar formas violentas de rejeição, são atitudes estigmatizadas nas interações diárias, inclusive, claro está, contra pessoas com tendências homossexuais.
Em relação aos homossexuais, a Igreja Católica tem de se opor à dissolução da antropologia cristã e à moral sexual que daí derivou, se quiser conservar o seu depósito de fé. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) diz aos crentes que «devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta» (CIC 2358). As palavras de Santo Agostinho a este respeito tornaram-se proverbiais: «Ama o pecador, detesta o pecado».’ (Gabriele Kuby, p. 180)
‘Uma investigação pública em larga escala, a National Health and Social Life Survey, divulgada pelo Center for Disease Control and Prevention em julho de 2014, descobriu que, ao contrário do que comummente se pensa, apenas 1,6% da população se identifica como homossexual, enquanto 96,6% dizem ser heterossexuais. Isto está em nítido contraste com uma pesquisa do Gallup de 2011. Nela se dizia que 52% dos americanos acreditavam que 25% da população era gay ou lésbica. Apenas 4% das pessoas pesquisadas na época acreditavam que a população homossexual era inferior a 5%. O fosso entre a realidade e a opinião pública prova quão incrivelmente bem-sucedida é a campanha de desinformação e propaganda do movimento LGBTI, apoiada pela maioria dos media.’ (Gabriele Kuby, p. 217)
‘[…] Os grupos de interesse LGBTI e os partidos alinhados com eles tentam culpar a «discriminação homofóbica» pelos elevados riscos do estilho de vida homossexual. Mas isso é contrariado pelo facto de estes números serem semelhantes em todos os países ocidentais, independentemente de quão liberal e tolerante seja cada um deles. Um estudo recente realizado na Holanda, um dos países mais liberais do mundo, mostra que as mulheres homossexuais apresentam uma maior taxa de abuso de substâncias e que os homens homossexuais revelam uma maior taxa de perturbações de ansiedade.’ (Gabriele Kuby, p. 225)
‘Numa altura em que o casamento entre um homem e uma mulher é cada vez menos associado ao conceito de fundação da família, e cada vez mais filhos são criados por mães solteiras, está em curso a batalha pela plena igualdade jurídica entre uniões entre pessoas do mesmo sexo e o casamento. Os libertadores sexuais do final da década de 1960 consideraram o casamento sufocante e antiquado, uma relíquia da possessividade burguesa. Isso revela uma contradição evidente: o mesmo grupo social que luta para enfraquecer a instituição do casamento está agora a lutar para que o casamento seja estendido às relações entre pessoas do mesmo sexo. E isso é proclamado como um «direito humano». A batalha cultural imposta ao mundo pelos poderes políticos ocidentais está em curso em todas as nações e a legislação está a mudar rapidamente.’ (Gabriele Kuby, p. 233)
‘[…] o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem decidiu em dois julgamentos (Schalk & Kopf vs. Áustria, 2010 e Chapin e Charpentier vs. France, 2016) que não há nenhum direito internacional vinculativo ao «casamento» de pessoas do mesmo sexo. Isso é regulado pela legislação nacional dos Estados-membros.’ (Gabriele Kuby, p. 239)
‘Uma investigação efetuada na [sic] Inglaterra com 1600 crianças menores de 10 anos mostra como as crianças sofrem com os divórcios dos pais. Quando lhes perguntaram o que mudariam se fossem um rei ou uma rainha e pudessem promulgar novas leis, a resposta mais frequente foi: «Proibia o divórcio».’ (Gabriele Kuby, p. 242)
‘Até que ponto é humana uma sociedade que premeia o «direito ao filho» nos adultos, mas debilita o direito que o filho tem a ter um pai e uma mãe que o criaram e são responsáveis por ele? Muitos estudos demonstraram que uma criança cresce melhor com os seus pais, sempre que não sejam excessivamente negligentes nos seus deveres.
Quando o Estado legitima a adoção por parte de pares do mesmo sexo, situa os pretensos direitos de uma minoria de adultos acima do bem-estar da criança. Isto contradiz toda a tradição jurídica do Ocidente. Nem sequer os pais biológicos são «donos» dos seus filhos, mas meros «depositários» da tarefa de lhes providenciar as melhores condições possíveis para que alcancem a sua singular individualidade.’ (Gabriele Kuby, p. 246)
‘Durante muito tempo houve quem pensasse que a batalha pelo «casamento» entre pessoas do mesmo sexo só tinha a ver com os direitos da minoria homossexual, mas isso é uma ilusão. Nada é suficiente para os agentes da revolução sexual, porque eles não conseguem encontrar paz em si próprios. Desde que o Supremo Tribunal dos Estados Unidos decidiu legalizar o «casamento» do mesmo sexo, em junho de 2015, o «tsunami transgénero» foi posto em marcha pela Administração Obama. A mensagem é: pode-se mudar de sexo voluntariamente, basta afirmar a sua vontade. Sem diagnóstico médico, sem medidas terapêuticas ou médicas, sem cirurgias.’ (Gabriele Kuby, p. 249)
‘A grande maioria dos jovens quer famílias. Mas o Estado, todo o sistema educativo e quase todas as organizações que têm alguma coisa a ver com a juventude deixaram de ensinar às crianças como amar e se relacionar.’ (Gabriele Kuby, p. 298)
‘O maior agente global no campo do aborto e da desregulação da sexualidade é a International Planned Parenthood Federation (IPPF), que tem organizações subsidiárias em 180 países. No seu relatório anual de 2010, a IPPF orgulha-se de:
- ter evitado 22 milhões de gravidezes;
- ter disponibilizado 131 milhões de serviços contracetivos;
- ter prestado 25 milhões de serviços relacionados com HIV;
- ter efetuado 38 milhões de CYP (distribuição de contracetivos);
- ter distribuído 621 milhões de preservativos;
- ter prestado 80 milhões de serviços a jovens.
A IPPF não só realiza milhões de abortos em todo o mundo, mas também vende partes intactas de corpos fetais obtidos através do procedimento ilegal do aborto por nascimento parcial. Isto foi revelado através de uma série de vídeos secretos divulgados a partir de julho de 2015.
A IPPF alega, enganadoramente, no seu Relatório Anual de Desempenho de 2007-2008, que o acesso ao aborto legal seguro é um imperativo de saúde pública e do respeito pelos direitos humanos. Mas isso é uma mentira crassa, Nenhum documento internacional vinculativo da ONU ou da EU reconhece o aborto como parte da saúde sexual e reprodutiva (SPH), e muito menos como um direito humano. O relatório anula da IPPF de 2010 diz que a União Europeia é o maior doador para o desenvolvimento internacional e que tem historicamente defendido a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos. A Rede Europeia da IPPF lidera os esforços para garantir que a saúde sexual e reprodutiva permaneça no centro da política de desenvolvimento da UE.
Como revela um relatório de março de 2012 da European Dignity Watch, os programas de aborto que a IPPF e a Marie Stopes International conduzem nos países em desenvolvimento são financiados pela EU, apensar de não haver base legal para isso. O principal grupo-alvo da IPPF são os adolescentes: «Nos últimos cinco anos, a IPPF passou de uma organização que trabalha com jovens para uma que tem o seu enfoque na juventude e onde a participação dos jovens é um princípio para a prestação de serviços de saúde sexual e reprodutiva de qualidade».’
Para a IPPF, os direitos sexuais dos jovens não ser limitados pela lei, nem pelas normas sociais ou religiosas. O relatório dos cinco anos diz, orgulhosamente, que a IPPF fez 238 alterações legais em 119 países a favor dos direitos reprodutivos e sexuais, dos quais 52 envolvem a liberalização do aborto. A IPPF forneceu 3,9 milhões de serviços relacionados com o aborto, 41,7% deles a jovens, o que corresponde a um aumento de 22%.
A Pro Familia, a sucursal alemã da International Planned Parenthood Federation (IPPF), implementa a sua estratégia a nível nacional e local. A Planned Parenthood foi fundada em 1942 por Margaret Sanger nos Estados Unidos e a Pro Familia em 1952 por Hans Ludwig Friedrich Harmsen. Como já tivemos ocasião de referir, Sanger e Harmsen viam-se como eugenistas que queriam reduzir o «património genético inferior na população» com o objetivo de promover um património genético «digno» para apoio ao Estado. Harmsen foi fundador e presidente da Pro Familia até 1962 e seu presidente emérito até 1984. Nunca se distanciou da sua posição sobre a eugenia. De 1973 a 1983, o marxista Jürgen Heinrichs foi presidente da associação. O nome Pro Famili sugere o oposto do que a organização, patrocinada pelo Estado, na realidade promove.’ (Gabriele Kuby, p. 301-303)
‘[…] Quase todas as organizações nacionais e internacionais que têm algo a ver com crianças ou jovens investem o seu poder e os seus recursos na sexualização das crianças desde o nascimento e no afastamento dos limites morais à atividade sexual. As organizações juvenis de movimentos cristãos são uma exceção, mas, infelizmente, muitas delas estão também a ser engolidas pela perspetiva dominante. A mensagem é que a sexualidade serve apenas para o prazer. Os efeitos colaterais indesejáveis, como a geração de uma nova vida humana, devem ser evitados pela contraceção ou eliminados pelo aborto. Os danos psicológicos causados por relações desfeitas e o perigo das DST são banalizados e ignorados.’ (Gabriele Kuby, p. 304)
‘Um estudo recente da Universidade de Harvard mostra que a incerteza acerca da identidade de género em crianças com menos de 11 anos aumenta a probabilidade de abuso sexual, físico e psicológico e de transtornos de stress traumático duradouros. A desconstrução da identidade de género através da «educação diversificada» e da dissolução dos «estereótipos de género» é uma experimentação irresponsável em crianças indefesas.’ (Gabriele Kuby, p. 330)
‘[…] quem beneficia com a sexualização das crianças e adolescentes e com a sua educação para a «diversidade»? Vários intervenientes vêm à cabeça:
- Aqueles que querem produzir pessoas desenraizadas, que possam ser manipuladas para fins estratégicos globais;
- Aqueles que têm interesse em reduzir o crescimento da população global sem mudar a distribuição global da riqueza;
- Aqueles que têm interesse em ver as nações ocidentais afundarem-se num «inverno demográfico»;
- Aqueles que têm interessem eliminar a religião, especialmente o Cristianismo;
- Aqueles que sofrem sob a «normatividade heterossexual» e desejam obter reconhecimento por meio da sua dissolução.’ (Gabriele Kuby, p. 335-336)
‘A propaganda mediática e política cria a impressão de que as famílias constituídas por pais casados e seus filhos são uma estrutura social desgastada do passado. Se assim for, então os números do Eurostat de 2008 sobre estilos de vida na União Europeia […] são uma surpresa. Segundo o Eurostat, em 2008, em toda a EU, 74% de todas as crianças com menos de 18 anos viviam com pais casados, 11,5% com dois pais em união estável e apenas 13,6% com apenas um dos pais. Estes números mostram quão robusta é a família, como base natural da sociedade humana. Apesar de décadas de políticas destrutivas da família, três quartos das crianças na Europa ainda vivem com pais casados.
Os jovens anseiam pelo verdadeiro amor e pela fidelidade. Mais de três quartos dos adolescentes acreditam que «é preciso uma família para se ser verdadeiramente feliz».’ [Nota de rodapé: Como Frank Schirrmacher demonstrou, nas crises que ameaçam a vida, as hipóteses de sobrevivência das famílias são maiores do que as dos indivíduos, mesmo se estes forem homens jovens cheios de vitalidade. Ver Frank Schirrmacher, Minimum, Munique, Karl Blessing Verlag, 2006.]’ (Gabriele Kuby, p. 337)
‘A autora Gabriele Kuby e outras quatro mulheres, todas conservadoras e líderes de opinião na Alemanha, foram retratadas como «zombies saídas da tumba em 1945» numa peça de teatro chamada «FEAR» da autoria de Folk Rixe, no teatro alemão Schaubühne. Para destruir esses «zombies» era necessário «dar-lhes um tiro na cabeça». As fotografias das quatros mulheres eram mutiladas pelos atores em palco. Citações de Gabriele Kuby foram manipuladas, rearranjadas e emitidas com a sua voz para a retratar como fascista. Gabriele Kuby moveu ações legais e perdeu na primeira instância com o argumento de que se tratava de «liberdade artística».’ (Gabriele Kuby, p. 360)
Rubrica "Sabes, leitor, que estamos ambos na mesma página" | Marca de água de livros que deixam marcas profundas | Parceria: Federação Portuguesa pela Vida e Comissão Diocesana da Cultura
*Título retirado de Daniel Faria, Dos líquidos, Porto, Edição Fundação Manuel Leão, 2000, p. 137
**Luís Manuel Pereira da Silva é Professor, Presidente da Comissão Diocesana da Cultura e Vogal da Direção da Federação Portuguesa pela Vida. É o autor de "Ensaios de liberdade", "Bem-nascido… Mal-nascido… Do ‘filho perfeito” ao filho humano" e de "Teologia, ciência e verdade: fundamentos para a definição do estatuto epistemológico da Teologia, segundo Wolfhart Pannenberg".
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